PAPO DE ADEGA
Vamos conhecer um pouco mais dos afamados Barolos e
Brunellos?
por Flávia
Medeiros*
Barolo, um vinho que é produzido no noroeste da Itália, na
Província de Cuneo.
Os
franceses têm Borgonha e sua elegante Pinot Noir e Bordeaux, tem a potência do
Cabernet. Os italianos, Piemonte com a
sutil Nebbiolo e Toscana com a força da Sangiovese.
Na
parte vitivinícola desse confronto, Itália e França se alternam como os maiores
produtores de vinho do planeta em quantidade de litros. Se na França, há uma
dicotomia entre os vinhos de Borgonha e Bordeaux, na Itália não é diferente. As
duas regiões mais famosas, Piemonte e Toscana, também disputam o gosto do
consumidor.
Barolo
e Brunello de Montalcino são os grandes destaques nessa disputa. O Barolo é um
vinho produzido nas cercanias da cidade de mesmo nome no Piemonte, com a uva
Nebbiolo, e o Brunello di Montalcino, na Toscana nas proximidades da cidade de
Montalcino, com a casta Sangiovese - que nessa região carrega o nome de
Sangiovese Grosso.
A
região do Piemonte produz outras joias além dos desejados Barolos. Nessa
região, esse vinho tem um "irmão" quase do mesmo nível. Trata-se do
Barbaresco que, como o Barolo, também é produzido obrigatoriamente pelas normas
da Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG) a partir de 100%
Nebbiolo.
Pouco
mais de 20 quilômetros separam as comunas de Barolo e Barbaresco, que produzem
vinhos semelhantes. Talvez a diferença mais "conhecida" entre Barolo
e Barbaresco é que, na maioria das vezes, o Barbaresco é mais fácil de ser
apreciado quando jovem. Porém, essa regra não é válida dependendo do produtor.
Além
desses dois grandíssimos tintos, o Piemonte tem outros tantos vinhos especiais,
como os extraordinários Barbera, que reinam nas comunas de Asti e também em
Alba, além dos famosos brancos doces à base da Moscato.
A
Toscana tem tradição milenar na produção de vinhos e também tem muitas estrelas
além dos Brunello di Montalcino. Ainda de Montalcino há outro tinto denominado
Rosso di Montalcino, que pode ser considerado um "minibrunello".
Sem
dúvida, os Brunello são os vinhos mais disputados da Toscana, mas nem sempre
foi assim. Durante muitos anos, os tintos de Chianti eram mais conhecidos pelos
enófilos, que os consideravam vinhos ralos e até ordinários. Atualmente, no
entanto, existem vinhos Chianti de grande estirpe.
Mais
recentemente na Toscana aconteceu um fenômeno "inventado" pelos
americanos: os "Super Tuscans" ou Supertoscanos. Esses vinhos viraram
uma febre de vendas, principalmente nos Estados Unidos, e nasceram porque
muitos produtores da região decidiram produzir vinhos com castas não permitidas
pelas legislações da DOC e DOCG - mais notadamente com variedades francesas
originárias de Bordeaux como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot. O
resumo do conceito de Supertoscano é que podem existir tanto grandes vinhos com
castas francesas, mas também vinhos que são produzidos a partir de 100%
sangiovese.
Nebbiolo e Sangiovese
A
Nebbiolo é conhecida pela delicadeza de um vinho com muita estrutura, taninos
extremamente marcantes e muita personalidade. Enquanto isso, com a Sangiovese,
encontramos desde vinhos ralos e sem expressão até verdadeiras "massas
musculares" como alguns varietais puros e Brunellos de estirpe. A
Sangiovese é mesmo muito versátil e, diferentemente da Nebbiolo, vai muito bem
em blends.
Barolo e Barbaresco
No
Piemonte, mais especificamente nos arredores de duas pequenas cidades, Barolo e
Barbaresco, tem-se um dos mais expressivos números de vinhos elaborados em
vinhedos únicos (Single Vineyard) do mundo. Ao vermos o mapa dessa pequena
região vitivinícola, notamos a enorme diversidade de vinhos produzidos com uma
única uva, a Nebbiolo (o mesmo fenômeno ocorre na Borgonha, com a Pinot Noir).
Barolo,
local dos vinhos mais ricos e profundos produzidos na Itália - conhecidos como
"Vinho dos reis e Rei dos vinhos", é dividido em cinco grandes áreas:
Barolo, Castiglione Falleto, Monforte d'Alba, La Morra e Serralunga d'Alba.
Já
Barbaresco têm como destaque os sublimes vinhedos únicos de Rabajá, Asili e Il
Bricco. Coincidentemente são esses Single Vineyards, de Barolo e Barbaresco, ao
lado dos grandes vinhos da Borgonha, os mais elegantes, complexos e diferenciados
tintos do planeta.
Além
do Barolo, a DOCG de Barolo possui o Barolo Riserva. Esses vinhos estagiam por
um período mínimo de três anos, dos quais pelo menos dois em barris de
carvalho.
Brunello di
Montalcino
Qualquer
enófilo sonha em degustar um Brunello di
Montalcino. O Brunello, como "marca", é recente, tem pouco mais de
cem anos. Mas, nesse período, tornou-se o vinho italiano de maior glamour e
luxo, suplantando qualquer outro. Esse ícone da vitivinicultura mundial é
produzido em um pequeno espaço de terra ao sul de Siena a partir da uva
Sangiovese Grosso in purezza (a DOCG não permite que nenhuma outra casta entre
na composição do Brunello). Essa variedade de maturação tardia é colhida em
meados de outubro, produzindo um vinho escuro, já que é fermentado lentamente e
por muito tempo em contato com as cascas da uva, para extrair o máximo de cor e
sabor. Depois, é envelhecido em botes de carvalho.
Brunello
costuma ser um símbolo de poder e riqueza, e no Brasil, mesmo os mais baratos,
estão acima dos seus R$ 100,00. E como ele é um vinho quase sempre muito
caro, é preciso atenção para comprar uma garrafa, pois existem inúmeros
Brunello sofríveis e de baixa qualidade. A dica é prestar atenção ao nome do
produtor.
As
normas da DOCG de Brunello di Montalcino exigem que o vinho estagie por um
período de envelhecimento de pelo menos dois anos em barris de carvalho
(qualquer dimensão) e pelo menos quatro meses em garrafa. Não pode ser colocado
para consumo antes de 1o de janeiro do ano posterior ao estágio de cinco anos
calculados considerando a data da safra.
Agora,
é só eleger seu favorito e tirar suas próprias conclusões! Salute!
(*)
Consultora em vinhos e com especialização na área. No Brasil é uma das
poucas profissionais que conta com a certificação Wine & Spirit Education
Trust – Level 2. Contato: chateaumedeiros@hotmail.com